Afinal, em que consiste o movimento que deu origem à revolta no Egipto?
Dora Pires no Página 1 relata-nos: «(...)Ao telefone a partir da capital egípcia, o professor egípcio da Universidade Americana do Cairo, Wael Farouk, conta que é gente como ele e os seus alunos que iniciou esta revolta. Gente que exige o fim da corrupção e um Egipto novo, civil e democrático, mas também gente receosa pelo que pode acontecer nos próximos dias por não acreditar em nenhuma das lideranças em campo. "Todos os partidos da oposição são mais corruptos que o Governo. Não nos merecem qualquer confiança. Incluindo a Irmandade Muçulmana que está a incendiar a situação." Este professor universitário está nas ruas desde o primeiro dia. Confessa que decidiu parar depois de ouvir o discurso de Hosni Mubarak à nação. O problema é que muitos manifestantes foram perseguidos e foi por medo que voltaram às ruas. Wael Farouk não quer que o Presidente abandone hoje o poder porque ainda não vê quem o possa substituir, mas quer mais, como a dissolução do Parlamento. Quanto aos partidos da oposição, acha que têm demasiados vícios do regime. “Todos os partidos da oposição são mais corruptos que o Governo. Não nos merecem qualquer confiança. Incluindo a Irmandade Muçulmana que está a incendiar a situação. Mubarak pode continuar se nos der garantias de que dissolve o Parlamento e entrega o processo de transição do poder a figuras públicas respeitadas da sociedade egípcia. O estado de emergência deve ser levantado já”, disse. Fundamentalismo islâmico “A defesa mais poderosa contra o fundamentalismo são estas pessoas que estão agora na praça Tahrir. Homens e mulheres dormem lado a lado nas ruas, muçulmanos e cristãos estão juntos. Quando a polícia desapareceu, ninguém pensou sequer em atacar uma igreja, ninguém pensou em assédio sexual. Falo-vos de pessoas muito civilizadas, jovens que são o futuro do Egipto”, referiu. Os mesmos jovens que cresceram ligados a valores do Ocidente e que agora se sentem traídos. “O que está a acontecer na Praça Tahrir é um movimento idealista, pacífico e democrático. O que estamos a ver do Ocidente é que estão a fechar os olhos, não fazem nada para nos proteger. Sentimos que tudo o que nos disseram sobre democracia, sobre liberdade foi afinal mera hipocrisia. A maioria das pessoas que estão nesta praça tiveram uma educação europeia, falam inglês. Agora sentem que foram traídos pelo seu modelo”. O futuro das relações entre o Egipto e Israel é uma das inseguranças do mundo ocidental quando olha para a Praça Tharir, mas Wael Farouq acha que só tem esse receio quem não entende a motivação dos manifestantes. “Ninguém quer entrar em guerra com Israel nem com ninguém. Temos que ir à origem desta revolução, perceber porque é que as pessoas foram para rua, como se organizaram através do Facebook, da internet. São egípcios moderados. Não foram para a rua por causa de Israel, mas sim porque não têm liberdade”, acrescenta. Wael Farouq é um dos rostos da revolta que apanhou o mundo e o regime egípcio de surpresa mas o que foi no início a sua grande força - a ausência de ligação a forças políticas ou religiosas, no fundo a ausência de qualquer liderança - ameaça ser agora a sua maior fragilidade. » |
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