Cortes na despesa do Estado? Tretas... o que realmente se produz é a duplicação dos sacrifícios dos cidadãos
«(...) Como ficou claro na apresentação da estratégia orçamental do Governo, as despesas que o Estado promete cortar são os salários e as pensões dos funcionários públicos, são os gastos com os serviços de saúde, de justiça ou de educação que garantem uma cidadania decente a quem de outra forma ficará dela privado. O resto são trocos. O Governo corta despesa pondo fim à universalidade de serviços, como o dos transportes ou o SNS, e estabelecendo em sua substituição serviços públicos esmolares e carregados de estigma - e, por isso mesmo, desqualificados - para pobres, ao mesmo tempo que transfere para os orçamentos familiares, num país como o nosso, com uma mediana de rendimento pouco acima dos 700 euros, os custos dos serviços prestados aos clientes (que não aos cidadãos). As [gorduras do Estado] que são realmente gorduras - as avenças obscenas para pareceres que enriquecem escritórios de advogados, as rendas garantidas para as parcerias público-privado - essas manter-se-ão incólumes, pois claro. O Governo não dá exemplo, dá sinais para quem manda na nossa economia, a partir de cá e a partir de fora. Onde a sua retórica de virtudes ficciona cortes que compensem os sacrifícios das pessoas, o que realmente se produz é a duplicação dos sacrifícios dos cidadãos: penalizados primeiro pela austeridade, os portugueses que vivem do seu salário ou da sua pensão, são adicionalmente penalizados pelos cortes do Governo nos seus gastos, que são afinal gastos com a nossa saúde, com a nossa justiça ou a nossa educação. Ou, mais ainda, com os nossos salários e as nossas pensões. (...)» |
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