Uma coisa é austeridade, outra, completamente diferente, é afogar uma economia
«(...) Havia um desígnio, uma meta que, atingida, ia milagrosamente guiar-nos à terra prometida: 4,5% de défice. Para atingir este valor, Paulo Portas não falaria mais do confisco quando se falasse de impostos. Esteve mesmo disposto a aceitar a maior subida de impostos, taxas e preços da história da democracia. Engoliu, sem problemas de maior, a arenga revolucionária que faria morrer de inveja qualquer sobrevivente do PREC: é preciso destruir tudo para construir uma nova sociedade. Uma sociedade de pessoas que olha o desemprego como uma oportunidade, uma comunidade livre de gente piegas e preguiçosa. No currículo ideológico de Paulo Portas só faltava mesmo um liberalismo de contracapa. Com os mágicos 4,5% na mente, não apresentou sinais de incómodo por ser o consultor António Borges a conduzir o processo de privatizações, pela forma como foi conduzido o processo das secretas ou por a coordenação política do Governo se assemelhar à duma associação de estudantes. Não tremeu com a iniquidade da proposta sobre o enriquecimento ilícito nem com o populismo desbragado e perigoso do Ministério do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, ou melhor, do Ministério da Justiça. Passados apenas seis meses, o líder do CDS já percebeu que não vamos cumprir os objectivos do défice, que todos os esforços dos portugueses foram, afinal, em vão. Como o antigo Paulo Portas sabia, demasiada carga fiscal arrebenta com a economia. Como o antigo Paulo Portas desconfiava, criar desemprego e cortar salários não é muito saudável nem para a receita nem para a despesa. Como o antigo Paulo Portas diria, uma coisa é austeridade, outra, completamente diferente, é afogar uma economia. (...)» |
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