Francamente...e as cobaias somos nós!
«Na página 41 do último World Economic Outlook do Fundo Monetário Internacional (FMI), Olivier Blanchard e David Leigh efetuam algo que é muito raro na literatura de uma instituição: um exercício de autocrítica.
Com efeito, o relatório confessa que na presente crise económica e financeira global o FMI, a Comissão Europeia e a OCDE (exatamente por esta ordem decrescente) têm errado constantemente o cálculo dos efeitos recessivos das políticas de austeridade. O que se reflete na Zona Euro e nos países, como Portugal, que se têm distinguido como compulsivos campeões dessas receitas. O erro é constante porque radica numa questão de método. Isto é, no cálculo do impacto sobre o produto interno bruto (PIB) causado por cada euro retirado à despesa pública. O cálculo tem sido efetuado na base de uma redução de 0,5 euros do PIB, por cada euro cortado ao Estado, quando, sustentam os autores, essa redução do PIB pode variar de facto de 0,9 a 1,7 euros. A conclusão é tão simples quanto inquietante. As atuais políticas de austeridade, para além de moralmente injustas e de legitimidade política discutível, correm o risco de ser tecnicamente erradas, pois agravam o problema que pretenderiam resolver. Em vez de trazerem o saneamento das contas públicas, aceleram uma espiral recessiva que, no final, aumentará a dívida pública (que se mede em relação percentual ao PIB), assim como todos os outros indicadores de sofrimento social, como o desemprego, os fluxos de emigração e a erosão da qualidade de serviços públicos descapitalizados pela própria austeridade. A gestão da crise está a ser feita sem saber nem prudência suficientes. Como um alquimista louco que misturasse aleatoriamente substâncias em busca de ouro. Só que o laboratório é o mundo real. E as cobaias somos nós.» Viriato Soromenho Marques[DN]
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